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Construção em EPS pode ajudar a reduzir déficit habitacional

Por suas propriedades e menor custo, os sistemas construtivos em poliestireno expandido são opção para oferecer moradia digna a quase 8 milhões de famílias no Brasil. O projeto Somos Todos Imigrantes é um exemplo desse uso

Por suas propriedades e menor custo, os sistemas construtivos em poliestireno expandido são opção para oferecer moradia digna a quase 8 milhões de famílias no Brasil. O projeto Somos Todos Imigrantes é um exemplo desse uso

O último levantamento realizado pela Fundação Getulio Vargas (FGV) em parceria com a Associação Brasileira de Incorporadoras Imobiliárias (Abrainc), em 2017, já apontava a carência de 7,78 milhões de unidades habitacionais no Brasil. O número considerado recorde é resultado da crise econômica registrada no país a partir de 2015, que gerou desemprego e contração da renda das famílias, além da redução do crédito imobiliário e encolhimento do programa Minha Casa Minha Vida, agora renomeado Casa Verde e Amarela.

Para mudar esse cenário, é fundamental que o país priorize políticas públicas de fomento à habitação. A engenharia, por sua vez, vem fazendo a sua parte ao desenvolver soluções construtivas industrializadas mais econômicas e de alta performance. Entre elas, ganham destaque os sistemas que utilizam poliestireno expandido (EPS) que, na forma de painéis monolíticos ou blocos, asseguram rapidez de execução, alta produtividade e obra limpa, com baixo índice de resíduos. O material assegura conforto térmico e acústico às moradias, reduzindo o consumo de energia elétrica para condicionamento do ar.

Esses foram alguns dos motivos que levaram o arquiteto David Ito, titular do escritório homônimo, a optar pelo sistema construtivo em EPS no projeto Somos Todos Imigrantes, desenvolvido em parceria com a ONG Orientavida. Diante do aumento no número de refugiados que chegavam ao Brasil – somente em 2015 foram quase 30 mil solicitações de refúgio –, a ideia foi projetar 32 casas de baixo custo e um centro comunitário, para acolher e propiciar a estruturação da vida dessas pessoas. A implantação, adiada por conta da crise econômica e da pandemia, deverá ocorrer em terreno doado, com área de 8 mil m², no município paulista de Potim.

Ao longo do processo, identificamos que, além da residência, o imigrante precisa de apoio para ser inserido socialmente. Seja para aprender o novo idioma, seja para solucionar questões burocráticas como documentação e validação de diploma para voltar a atuar profissionalmente”, conta Ito. Essa foi a base para a criação do centro comunitário que vai contar, entre outros espaços, com consultório médico e dentário. Uma cozinha industrial e a horta comunitária vão propiciar a integração com os moradores da cidade, através da divulgação da culinária de seus países de origem.

O arquiteto conta que, em conversas com organizações voltadas para essa população e com os próprios refugiados, o projeto ganhou um novo formato. “Deixou de ser um condomínio de moradia permanente que atenderia apenas 32 famílias, para ser um local de acolhimento rotativo, com prazo de seis meses por núcleo familiar – tempo ideal para que se integrem –, o que resultará no apoio a milhares de refugiados ao longo do tempo”, explica.

 

Concepção e sistema construtivo em EPS

 

Do projeto de arquitetura aos complementares, tudo foi doado. No entanto, há o custo da construção. Feito o orçamento, sem considerar eventuais serviços e materiais que também poderão ser cedidos pelas empresas que venham a participar da obra, a equipe de Ito concluiu que o valor ficaria próximo ao da construção de casas populares. “Outro custo importante é o de operação e manutenção do condomínio. Ou seja, não poderia consumir muita energia e água, além de evitar desperdícios. E ainda teria o gasto com a subsistência das famílias com alimentação, saúde, vestuário e transporte. Portanto, para viabilizar o programa, reduzimos ao máximo o custo de construção com um projeto de arquitetura mais inteligente”, conta.

Depois de avaliar os sistemas construtivos convencionais, o arquiteto soube da possibilidade de construir em EPS no Green Building Council Brasil (GBC), do qual é membro. A escolha foi imediata. “Conhecemos o sistema em poliestireno expandido e concluímos por sua viabilidade.

"Fizemos estudo comparativo com os demais e constatamos que o custo é sensivelmente menor”, revela.

 

Conhecemos o sistema em poliestireno expandido e concluímos por sua viabilidade. Fizemos estudo comparativo com os demais e constatamos que o custo é sensivelmente menor, David Ito

 

Muito além da vantagem financeira, o material garantiu benefícios como possibilitar uma construção mais leve, com economia nos custos de fundações. “Vamos usar sistema radier, que é bem mais barato. Foi determinante, também, o EPS permitir a capacitação da mão de obra local para a construção das casas. Será uma obra muito rápida e sem geração de resíduos, poupando custos, materiais e sua destinação adequada como requerem os sistemas convencionais”, elenca o arquiteto.

 

Foi determinante, também, o EPS permitir a capacitação da mão de obra local para a construção das casas, David Ito

 

O projeto é candidato à certificação Referencial Casa, tendo participado como projeto piloto da versão GBC Brasil Condomínio. A construção com EPS vai colaborar para a conquista do selo, ao garantir, entre outros quesitos, o conforto térmico e acústico aos ambientes. O arquiteto informa que será possível reduzir em torno de 4 °C as temperaturas internas no verão e reter o calor nos ambientes durante o inverno. “Não é por se tratar de um padrão popular de moradia construído através de um programa de cunho social, que iríamos colocar as pessoas lá sem o mínimo de conforto”, ressalta.

 

Concepção das casas e do centro comunitário

 

Na contramão da máxima padronização das casas populares como se vê no Brasil, sem qualquer equipamento comum, o projeto de Ito procurou criar vários microclimas para cada conjunto de moradias – todas térreas. “Em cada um terá um local de integração das famílias recém-chegadas com quem já estará lá, como quadra esportiva, horta comunitária e pracinha”, detalha.

As casas terão telhado verde e os vãos não receberão janelas típicas, de 1,20 x 1,20 m, por exemplo. As dimensões totais dos vãos necessários à boa iluminação e ventilação foram divididas em pequenas e muitas aberturas de, em média, 0,40 x 0,40 m. Elas têm fechamento em vidro, sendo que algumas abrem, e as dos dormitórios terão vedação de correr em madeira. No centro cultural, o projeto criou uma malha estrutural em concreto armado que permitirá ampliar ou reduzir os ambientes, conforme a necessidade. Ali, predomina o colorido, que procura simbolicamente traduzir as diferentes etnias e culturas. As paredes serão em telha sanduíche e o fechamento perimetral com cobogó, para dar transparência, iluminação e ventilação ao centro comunitário.

Para mais informações e detalhes técnicos, acesse: www.isorecort.com.br ou www.monopainel.com.br.

 

Colaboração técnica

 

David Ito – É arquiteto e urbanista formado pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, com pós-graduação em Conforto Ambiental e Eficiência Energética na Universidade de São Paulo (USP). Membro do Green Building Council Brasil, integra os Comitês de Certificação e palestrante. Criou seu escritório, David Ito Arquitetura, em 2013.

 

 

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